Irei, certamente, no futuro, socorrer-me de textos publicados no livro ARANHAS ontem e hoje, editado pela Liga dos Amigos de Aranhas em 1986, e cuja comissão foi composta por Dr. Manuel Martins Lopes Marcelo, Prof. Libério Candeias Lopes e José Ramos Domingues.
Primeiro, porque foram textos baseados em recolhas feitas na altura e são o mais possível fidedignas; segundo, porque servirão para dar a conhecer, aos mais novos, as tradições e a história de Aranhas, já que começo a verificar que é jovem a maioria dos leitores do blog Mata Aranha e da página do facebook Aldeia de Aranhas. Acresce que o livro está esgotado e, por isso, pode não ser fácil o acesso ao mesmo por parte da maioria.
Assim, de ARANHAS ontem e hoje transcrevo o seguinte texto de 1986:
«Tradição por excelência, mantém-se viva em Aranhas e consta de cantigas populares entoadas por grupos de homens e mulheres que, depois do Natal e até à 5.ª feira de comadres, vão de porta em porta, pela calada da noite, desejar boas festas aos seus proprietários, na esperança de receber alguma recompensa por isso.
Se retrocedermos no tempo, algumas décadas atrás, verificaremos a autenticidade desta tradição. Nessa época as pessoas poucas distrações tinham e a pobreza reinava na maioria das famílias da aldeia. Por isso, o cantar das Janeiras proporcionava-lhes alguns momentos de camaradagem e ainda alguma coisa para festejar a 5.ª feira de comadres mais condignamente.
Pela escuridão da noite, o grupo de pessoas, geralmente composto por homens, devidamente agasalhados pelo gabão de serrubeco, iam à porta dos mais abastados, desejar felicidades e pedir alguma coisa do porco que lá foi morto.
Regra geral, as suas quadras eram cantadas acompanhadas pelo toque do acordeão e viola. Noutros casos bastava o realejo, instrumento mais comum e mais barato naquela época.
Quase toda a gente retribuía e recompensava o esforço dos elementos do grupo que, embora as noites fossem friorentas, não arredavam pé até receberem uma resposta. Esta vinha quase sempre acompanhada de uma peça do fumeiro, de vinho ou de dinheiro. Se, por acaso, o dono da casa não se dignava aparecer, o grupo cantava-lhe a quadra:
Estas barbas de farelo
Não têm nada para nos dar
Foi encher uma farinheira de cinza
Para já ter que nos dar
E dirigia-se, de seguida, a outra casa vizinha.
E assim, durante muitas noites, iam percorrendo toda a aldeia. O que juntavam, guardavam-no até à 5.ª feira de comadres e fazia-se um jantar para todos, seguido de baile ao som do acordeão.
Neste dia tiravam-se as “comadres”, isto é, escrevia-se o nome dos presentes em papelinhos. Depois, os que tinham o nome dos rapazes metiam-se num chapéu e o das raparigas noutro. De seguida, tirava-se um papelinho com o nome de um rapaz e lia-se em voz alta. De imediato, era tirado um com o nome de uma rapariga que ira ser sua comadre. Depois de lido o seu nome vinha uma grande salva de palmas .E assim se fazia até não haver mais papéis nos chapéus. Escolhidas as comadres, que iriam trocar presentes no dia de Páscoa, dava-se inicio ao baile.
É curioso referir que, o que tinha começado por uma simples brincadeira, acabava, muitas vezes, em noivado e mais tarde em casamento.
Voltando ao cantar das Janeiras, elas são ainda cantadas por grupo de crianças.
Há cerca de 4 anos [em 1986!], o Rancho Folclórico de Aranhas, numa atitude louvável, fez os possíveis por reviver esta tradição».
Ainda sobre a 5.ª feira de comadres, também as crianças da escola de Aranhas costumavam festejar este dia.
Cada uma contribuía com o que podia, e na escola confeccionava-se um almoço, não raras vezes com a colaboração dos alunos. Na ementa nunca faltava o arroz doce.
Havia , ainda ,por vezes, ajuda financeira da Junta de Freguesia.
Junto uma foto de um desses almoços
Texto e foto enviadas por Libério Lopes
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