Foi no início da década
de setenta que o Instituto Pina Ferraz, resolveu elaborar um projeto de
loteamento do terreno sito no Chão Grande, de que era proprietário. Era eu,
então, presidente da Junta de Freguesia de Aranhas, e presidia, também à Direção
da Liga dos Amigos.
Tive conhecimento do
facto e, como presidente da Junta, assisti, in
loco, ao leilão dos lotes. Contudo, e por razões que desconheço, nenhum lote
foi vendido, o que muito me surpreendeu na altura, pois havia muita procura de
casas e de terrenos. Perante este insucesso, o Instituto Pina Ferraz resolve, algum
tempo mais tarde, colocar todo o terreno à venda.
Nestas circunstâncias, decido
fazer um pedido de cedência de parte do terreno à Liga dos Amigos de Aranhas,
para ali construir um polidesportivo. Dirigia, então, o Instituto Pina Ferraz,
o arcipreste António Baltazar da Ressurreição, sobre o qual devo, desde já,
salientar a compreensão e a simpatia, quando lhe falei da Liga dos Amigos e dos
objetivos a que a mesma se dedicava, nomeadamente em matéria de desporto.
Passado bastante tempo,
veio, finalmente, a comunicação de que o Instituto tinha decidido vender-nos uma
porção do terreno, pelo preço simbólico de mil escudos.
Aceitou-se de imediato, tendo-se
realizado a competente escritura a 26 de Outubro de 1976. Porém, e dado que, na
ocasião, a Liga não dispunha da quantia necessária para pagamento, solicitei ao
arcipreste Baltazar algum tempo de espera. O senhor, com um sorriso compreensivo,
de imediato nos perdoou a dívida. Por isso, as nossas sinceras homenagens ao
Instituto Pina Ferraz, e ao seu, então, diretor.
*
À data não havia qualquer
polidesportivo no concelho de Penamacor, e, por essa razão, não me foi fácil
passar a mensagem, às entidades oficiais, relativamente ao seu valor em favor
da juventude.
O levantamento
topográfico foi executado pelo meu amigo Carvalho, topógrafo na Câmara
Municipal, mas a obra em si, como qualquer obra neste país, estaria destinada a
percorrer os seus trâmites e a sofrer os seus revezes e atrasos, a começar pelo
facto de pertencer a uma simples associação cívica, que não a instituição
oficial.
Com efeito, só muito mais
tarde, e depois de ser construído o polidesportivo de Penamacor, o primeiro do
concelho, sendo presidente da Câmara o Dr. Francisco Ribeiro, é que foi dada
luz verde para avançar o da Liga dos Amigos de Aranhas.
Mas os problemas financeiros
seriam mais que muitos, já que a Liga nunca beneficiou de subsídios para o seu funcionamento,
ao contrário de outras instituições do género. Tivemos, inclusivamente, de «mendigar»
ajudas materiais, para se conseguirem bolas, redes, balizas, etc. Só muito mais
tarde teríamos a colaboração preciosa da Câmara Municipal em obras fundamentais,
como nos balneários, por exemplo.
A determinada altura (não
me recordo da data certa), na qualidade de presidente da Direção da Liga, propus,
à Comissão de Festas de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que os festejos populares
se realizassem no polidesportivo, mediante um acordo escrito e negociado entre
as partes. A referida Comissão não aceitou, mandou fazer algumas obras na
encosta do monte e ali realizou as festas desse ano.
Entretanto, e sem qualquer
conversa prévia, essa mesma comissão nomeia-me para presidir à futura comissão.
Aceitei o desafio e escolhi uma boa equipa, coesa e trabalhadora. A minha
primeira proposta seria para a realização da festa no polidesportivo. A
proposta foi aceite e partiu-se para a celebração de um protocolo, entre a Liga
e a Comissão de Festas, que foi assinado pelas duas partes, e, que segundo
creio, ainda se mantém em vigor.
*
Iniciam-se as obras no
recinto. Começa-se por construir o bar, que teve de se adaptar ao terreno
disponível e, nesse ano, funcionou sem cobertura, provisoriamente tapado com
ramos de eucalipto. Foi a Liga que pagou esta obra, já que a comissão anterior
não deixara qualquer verba.
Depois, tudo começou a
ser mais fácil: a Liga consegue da Câmara a instalação da água, da eletricidade
e, mais tarde, o calcetamento de acessos e zona envolvente. Por outro lado, as
várias comissões de festa, em colaboração com a Liga, também ali fizeram
investimentos: ampliaram o palco existente e dotaram de cobertura; construíram
a zona da quermesse; melhoraram sensivelmente o espaço do bar e, juntamente com
a Liga e mediante subsídio da Câmara, melhoraram as casa de banho e
construíram-se as bancadas.
*
Nem sempre tem sido
consensual e bem visto, por parte de alguns conterrâneos, o investimento das
comissões de festa, numa propriedade da Liga. Porém, esta partilha de
instalações nunca causou conflito de competências entre as duas partes
interessadas, e, para além disso, proporciona racionalização e economia de
meios, evitando gastos desnecessários numa aldeia tão pequena como a nossa,
onde são cada vez menos as pessoas e os recursos, e onde os subaproveitamentos
e os desperdícios não devem ter lugar.
Em conclusão, acho que
saíram a ganhar os festivaleiros e os desportistas, as Comissões de Festas e a
Liga dos Amigos; acho que todos estamos de parabéns e que todos podemos
orgulhar-nos por termos um bom polidesportivo e um bom recinto para as festas
da terra.
Aranhas, 30 de Julho de
2012
Libério Candeias Lopes
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